Beber álcool aumenta risco de demência mesmo quando o consumo é pequeno, aponta estudo de Oxford
24/09/2025
(Foto: Reprodução) Consumo de álcool
Isabella Mendes/Pexels
O consumo de álcool, mesmo em pequenas quantidades, pode aumentar o risco de demência ao longo da vida. A conclusão é de um estudo internacional publicado na revista científica "BMJ Evidence Based Medicine", que combinou dados observacionais e análises genéticas para tentar isolar os efeitos reais da bebida sobre o cérebro.
Durante muito tempo, alguns estudos apontaram que beber pouco poderia proteger o cérebro. Mas, segundo os novos dados, essa impressão provavelmente se deve a um engano estatístico chamado “causalidade reversa”.
Isso acontece porque pessoas que já estão começando a ter sinais de demência costumam reduzir naturalmente o consumo de álcool. Assim, quando os pesquisadores comparam, parece que quem bebe pouco está mais protegido — quando, na verdade, o que acontece é que alguns já estavam doentes e passaram a beber menos.
Os pesquisadores da Universidade de Oxford reuniram informações de 559 mil participantes de dois grandes biobancos — o "Million Veteran Program" (EUA) e o "UK Biobank" (Reino Unido) — acompanhados por até 12 anos. Nesse período, 14,5 mil pessoas desenvolveram algum tipo de demência.
A equipe aplicou dois tipos de abordagem:
Análises observacionais, que encontraram: maior risco entre abstêmios e bebedores pesados, e risco menor em níveis moderados;
Análises genéticas (randomização mendeliana), com dados de 2,4 milhões de indivíduos, que mostraram aumento linear do risco conforme a quantidade ingerida, sem sinal de efeito protetor em doses baixas.
No recorte estatístico, os pesquisadores identificaram que beber mais de 40 doses por semana esteve ligado a um aumento de 41% no risco de demência, enquanto pessoas com diagnóstico de dependência apresentaram um risco 51% maior em comparação a bebedores leves.
Nas análises genéticas, cada incremento de 1 a 3 doses semanais se associou a um risco 15% mais alto de desenvolver a doença, e o risco dobrado de dependência significou 16% mais chance de demência.
Em termos populacionais, os autores estimam que cortar pela metade a prevalência de dependência alcoólica poderia reduzir em até 16% os casos de demência.
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Metodologia e ressalvas
O estudo teve pontos fortes, como o grande número de casos analisados, a inclusão de pessoas de diferentes perfis e o uso de métodos de genética populacional para reduzir vieses de confusão. Além disso, foi possível observar a trajetória do consumo ao longo da vida, identificando quedas mais acentuadas entre quem acabou desenvolvendo demência.
Entre as limitações, os autores citam o fato de os resultados mais robustos apareceram em participantes de ancestralidade europeia, o que reduz a generalização para outros grupos.
Conclusão dos autores
Para os pesquisadores, a mensagem central é clara: "não há nível seguro de consumo de álcool para o cérebro".
“Nossas descobertas apoiam um efeito prejudicial de todos os tipos de consumo de álcool no risco de demência, sem evidências que sustentem o efeito protetor antes sugerido do consumo moderado”, afirmam Anya Topiwala (Universidade de Oxford) e colegas.
Eles acrescentam: “O padrão de redução do consumo de álcool antes do diagnóstico de demência observado em nosso estudo ressalta a complexidade de inferir causalidade a partir de dados observacionais, especialmente em populações idosas. Nossos achados destacam a importância de considerar a causalidade reversa e fatores de confusão residuais em estudos sobre álcool e demência, e sugerem que reduzir o consumo de álcool pode ser uma estratégia importante de prevenção”.